10 Quadrinhos que mudaram minha vida – por Érico Assis (tradutor)

Desde que fiz o convite o Érico gostou da ideia de participar da série.Só tinha aquele probleminha padrão dos tempos modernos, em meio ao seu trabalho como tradutor, professor e tudo mais: tempo. Por conta disso, nos acertamos para retomar o contato mais adiante.

Meses se passaram desde o primeiro contato, quando resolvi retomar o assunto. Pois ele não só tinha mantido o interesse, como tinha finalizado a lista e me mandou de imediato. Construiu em meio às tarefas diárias, sempre que lembrava de alguma HQ que merecesse ser incluída. Escrevi na corrida, mas é de coração 😉, disse por e-mail ao enviar a lista final.

De fato, ele descreve as situações com tamanho entusiasmo, que até dá pra dividir um pouco do gostinho que teve ao relembrar delas (e dá pra perdoar a pequena “trapaça” ao juntar muitas HQs no item 9). Vale lembrar que, para esta série, cada convidado pode definir como preferir o que quer chamar de HQ (uma história avulsa, um exemplar de um gibi, charge, arco de histórias e por aí em diante…).

Deliciem-se então com os 10 Quadrinhos que mudaram minha vida – por Érico Assis.

Érico Assis, o pai da @garotazeitona

Ok, vamos lá. 

Mas com preâmbulo importante: memória é uma coisa falha e com certeza vou esquecer de coisas importantes e depois vou me dar tapas na testa de como-fui-esquecer-de-___________-e-__________-e-_______________ e me reservo o direito de mudar a lista.
 
No mais, estes são 10 dez quadrinhos que real e literalmente mudaram a minha vida:
 
 
1) O gibi do Capitão América sem capa e sem algumas páginas que pode ter sido o início de tudo

 

Que é importante porque ainda tem anotado “1983” no alto da página-que-virou-capa. Eu só aprendi a ler uns três anos depois, o que quer dizer que gibis de super-herói já estavam nas minhas mãos antes de eu ter autoconsciência. Ou seja: pai, mãe, vocês são os culpados.




2) Qualquer gibi desenhado pelo John Byrne 

X-Men, por John Byrne

Esse anterior do Capitão América começava com uma história do John Byrne. Todos os outros desenhistas pareciam toscos perto do Byrne. Durante muitos anos eu guardava as história do Byrne para ler por último. Se comprava, tipo, dez gibis na banca, lia primeiro todas as histórias dos dez, menos a do Byrne – que tinha que ser o horário nobre da leitura. Não sou mais assim, juro.

 


3) Um gibi com o Demolidor que falava de vegetarianismo

Provavelmente esse(que li nesta Superaventuras Marvel). A Ann Nocenti enfiava esquerdices e ecochatices nas histórias do Demolidor. Era final dos anos 80, ela não tem culpa (Ok, tem). Mas desconfio que essa história criou as minhoquinhas no meu cérebro que fizeram eu parar de comer carne durante quase vinte anos.

 





4) Morte: o Preço da Vida | Neil Gaiman/Chris Bachalo

 
Fiz uma tatuagem depois de ler. Eu tinha 16.
 
 

 
5) Desvendando os Quadrinhos| Scott McCloud

Tanta coisa que se podia tirar de um gibi – e tanta coisa que se podia aprender sobre linguagem. Foi a primeira vez que ouvi falar do McLuhan. Acabei fazendo faculdade de Comunicação (Publicidade e Jornalismo), fiz mestrado em Comunicação, virei professor de Teorias da Comunicação…


6) Um livrão do Little Nemo pela Taschen

Que vi na Feira do Livro de Porto Alegre, aí por 97, 98. Folhei, babei, era muito caro, saí cabisbaixo. Dei mais uma volta na Feira, pensei “Azar. Não compro mais nada, mas compro aquele.” Voltei e alguém já tinha levado. Quando comecei a me sustentar e ter sobras no orçamento, passei a comprar todos os lançamento de tudo que atraia o mínimo interesse. Ainda não parei. E claro que achei até uma reedição desse Nemo.


 
 
7) Jimmy Corrigan: o Menino Mais Esperto do Mundo | Chris Ware
Numa época em que os gibis estavam em baixa, e eu mesmo estava com a cabeça em outras coisas, esse tijolinho fez eu perceber que tinha muita coisa para ver e conhecer nos quadrinhos. E entender. Acho que estou há mais de dez anos tentando entender o que o Ware fez comigo em Jimmy Corrigan.

8) Retalhos | Craig Thompson


Admito que não fiquei muito enlevado pela biografia do Thompson quando li da primeira vez. Mas foi a primeira HQ que traduzi como profissional e, ao longo de quatro anos, traduzir virou minha principal ocupação. Depois dela veio tudo isso.



9.1) Pinóquio (Winshluss), 9.2) “Branca de Neve” (Rafael Coutinho), 9.3) A Guerra de Alan (Emmanuel Guibert), 9.4) Planetes (Makoto Yukimura), 9.5) Pluto (Naoki Urasawa), 9.6) Ordinary Victories (Manu Larcenet),9.7) Gus (Christophe Blain), 9.8) Ghost World (Dan Clowes), 9.9) All-Star Superman nº 10 (Grant Morrison/Frank Quitely) 

Também na linha do “ainda estou tentando entender”, tem essas várias HQs que mexeram comigo na primeira leitura e me chamam na estante de vez em quando. Ainda quero entender como o Coutinho pensou a lógica da Branca de Neve, aquelas páginas finais líricas de Guerra de Alan, a cena em que o cara chuta o cachorro em Pinóquio (quando eu penso em tristeza, eu penso naquela cena) e como o Larcenet, o Yukimura, o Urasawa, o Blain, o Clowes e outros conseguem criar em mim tanta empatia pelos personagens. E como o Morrison chegou na ideia por trás daquela história do Superman, que, quanto mais eu penso, mais parece a ideia mais simples, elegante e sensacional que já se usou num gibi de super-herói. Acho que é bom ter estas dúvidas. Há quem chame de magia.



10) Qualquer coisa do Frederik Peeters

Minha obsessão atual é descobrir um jeito de viver num mundo desenhado pelo Frederik Peeters. Amo Blue Pills, acabei de ler dois outros álbuns dele e, felizmente, tem muita produção do cara que ainda não conheço.

Érico Assis é jornalista, professor universitário e tradutor (de Wilson, Retalhos, Scott Pilgrim e Daytripper, entre outras HQs). Colaborador do site Omelete e colunista do blog da Cia das Letras.


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