Com isso em mente, esbocei uma regra: ficaria totalmente em aberto o que seria chamado de HQ, desde uma história avulsa, um exemplar de uma revista (ou livro), uma charge, cartum, ou tira (únicos ou coletânea), um arco de histórias, ou até mesmo uma série completa. Desde que não passasse de dez itens (é preciso criar um fim, senão estas coisas não acabam nunca :)).
E, claro, não dava pra ficar só na minha. Peço que os leitores do blog dêem sua opinião, façam suas próprias listas e compartilhem na área de comentários. E, pessoalmente, vou convidar (aliás, já comecei a fazer isso) alguns colaboradores a produzir suas listas, a serem reproduzidas aqui no SaposVoadores.net.
Bom, eis a minha lista. Procurei colocar as Histórias em Quadrinhos em ordem cronológica. Não de quando foram feitas ou lançadas, mas sim quando as li.
Então vamos lá?
1) Turma da Mônica: Romeu e Julieta
Muito provavelmente minha primeira leitura de quadrinhos foi da turminha do Mauricio de Sousa (não dá pra ter certeza). Mas não foi esta história, que li num almanaque especial, na casa dos meus tios-padrinhos. Qual não foi minha surpresa ao perceber que a turma não era a mesma de sempre! Era como se todos estivessem atuando, encenando Romeu e Julieta, mas preservando traços básicos de sua personalidade. Um marco pra mim em relação às possibilidades de uso de personagens já conhecidos do público.
E pesquisando agora descobri que está na íntegra na internet, leia então Turma da Mônica: Romeu e Julieta.
2) Homem-Aranha nº 79 (Ed.Abril)
Em 1989 eu já lia bastante quadrinhos, mas basicamente infantis e Asterix. Foi por reportagens de jornais que comecei a me inteirar sobre o mundo dos super-heróis e sabia que alguns amigos também gostavam.
Quando li sobre a mudança do uniforme do Aranha, resolvi que era hora de tentar, já que simpatizava com o personagem nos desenhos animados. A revista nem era lá grande coisa e me deixou com a sensação de chegar no meio da história (se passava logo depois da megassaga Guerras Secretas). Tinha também o Quarteto Fantástico, outro que era diferente das animações. Resolvi que seguiria a revista nas edições seguintes e foi assim que começou meu apreço pelo universo do gênero quadrinhos de super heróis e pelo Homem-Aranha.
1989 foi mesmo um ano bom. Era cinquentenário do Batman e as reportagens sobre ele e edições especiais pipocavam. O personagem não estava entre meus preferidos, mas resolvi comprar a revista.
Tiro e queda. Me espantei em descobrir como as coisas eram diferentes nos quadrinhos em relação aos Superamigos e das reprises do seriado dos anos 70. Como o herói parecia muito mais interessante, destemido e ainda tomava um tiro e sangrava (ora, era só um humano!). Tá, as HQs do Aranha eram divertidas, mas Batman era certamente especial.
Outra do mesmo ano. Comprei e devorei o encadernado com a série completa. Engraçado lembrar que, anos antes, num curso de quadrinhos, cheguei a folhear uma edição das avulsas, sem ter tido tempo pra ler. Na ocasião, me inspirou a criar uma HQ humorística na qual imaginava um Super-Homem cinquentão viciado em kriptonita.
Mas agora era diferente, eu já havia dado chance ao personagem e com a obra de Frank Miller então a empolgação subiu a patamares inacreditáveis: tornou-se meu personagem preferido e passei a acompanhar tudo o que saía com ele. Pra minha sorte, graças ao cinquentenário, foi uma época ótima de especiais.
5) A Insustentável Leveza do Ser
Demorei um pouco pra descobrir quadrinhos nacionais não-Mônica. Lia mais em prol de um nacionalismo irracional do que propriamente por conta das histórias.
Pois foi com Laerte, em especial com esta HQ, que pude perceber o quanto era legal também o trabalho sem personagens fixos e pitadas de realismo fantástico. São apenas seis páginas de arte preto-e-branco sobre um sujeito que descobre que tudo em sua vida é falso, que me mostraram um novo mundo de possibilidades na nona arte.
6) Homem-Animal, de Grant Morrison
Este arco roteirizado pelo escritor inglês foi o grande responsável por eu acompanhar a revista DC 2000, da editora Abril. Morrison pegou um herói de segunda (ele já existia) e criou histórias interessantíssimas focando nos problemas familiares do personagens (casado e pai de dois filhos), questões ecológicas e metaliguagem, coisa que sempre gostei, mas não achava que funcionaria com super-heróis.
Os pontos altos são O Evangelho do Coiote (no qual toma contato com um coiote meio humanóide, como aquele que persegue o Papa Léguas nos desenhos da Warner) e a conclusão Deus Ex Machina (na qual o herói se encontra com o criador, no caso, o próprio Morrison)
7) Calvin e Haroldo (completo)
O genial garoto espevitado e seu tigre de pelúcia me fizeram ver com novos olhos as tirinhas de jornal (e posteriores coletânea em livros). Seu humor inteligente com um tanto de inocência e traquinagem típicas do universo infantil, sem ser infantilesco, me fizeram fã confesso.
É bom saber também que seu criador, Bill Waterson, produziu todas as tiras e certo dia decidiu parar, aposentando o personagem. Coisas boas do gênero também precisam ter fim, pra não virar “mais do mesmo”.
8) Maus
Art Spielgman retratou a história de sua família com tal força que me pegou desprevenido. Sim, quadrinhos servem também pra mostrar a realidade. Mesmo que na HQ os judeus sejam antropomorfizados como ratos e os nazistas como gatos. Preparou minha mente pra, mais tarde, eu ver com mais naturalidade o genial jornalismo em quadrinhos de Joe Sacco. Recentemente ganhei o livro de extras desta história, Meta Maus, e ainda vou demorar a conseguir vencer mais este calhamaço de informações.
9) New York – A Grande Cidade
Este álbum foi a primeira história que li do mestre Will Eisner. Embora a narrativa visual seja fantástica e referencial no mundo das HQs, o que me chamou a atenção foi notar como crônicas do cotidiano funcionavam bem nos quadrinhos. O impacto foi grande: tal tipo de história, inclusive, é o que mais aprecio na atualidade.
10) Sandman (série completa)
Amigos já tinham me falado desta série do roteirista Neil Gaiman, mas eu folheava nas bancas, não gostava do desenho e desistia… Foi num evento de quadrinhos na FAU-USP, daqueles de vários dias, que resolvi, de cara, comprar uns encadernados: A Casa de Bonecas foi o primeiro e devorado de um dia pro outro.
A história do senhor dos sonhos e seus discípulos (todos nós:)), ambientada na atualidade, mas repleta de fantasia e referências mitológicas, me fascinou de imediato. No dia seguinte, levei mais dois (tempos depois li o arco inicial, que não estava disponível lá). Se tem uma série de qualidade (e olha que foram cerca de 70 números mensais!) e com poder para cativar pessoas fora do mundo dos quadrinhos, é esta. Todos deveriam agradecer Gaiman eternamente por isso.
Ricardo S. Tayra é jornalista, roteirista e produtor cultural no Itaú Cultural, criador e editor do blog SaposVoadores.net .
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