Sergio Chaves (imagem/acervo pessoal) |
Dando continuidade à série dos 10 Quadrinhos que Mudaram Minha Vida, a lista de agora é do editor e roteirista da Café Espacial, Sergio Chaves.
E certamente não foi fácil pra ele arrumar tempo pra atender ao convite. Anda num ritmo frenético, pós evento HQ Mix 2012 em São Paulo (levou mais um troféu pela Café Espacial, de Publicação Independente de Grupo) e está em plena campanha de crowdfunding buscando viabilizar a edição 11 da revista. Mas, como bom editor, foi além de cumprir o prazo que prometeu, tendo entregue o texto bem formatado e boas sugestão das imagens (colaborador sonho de qualquer editor :))
Fiquem então com a lista dos 10 Quadrinhos que mudaram minha vida – por Sergio Chaves.
01) Batman nº 0| 5ª série, Editora Abril
Até outubro de 1996 eu lia HQs esporadicamente, de Turma da Mônica a Homem-Aranha, sem tanto envolvimento. Foi quando a Abril Jovem (divisão de publicações infanto-juvenis da Editora Abril) zerou a numeração de seus títulos DC. Adquirir, por acaso, essa edição de Batman, me permitiu começar uma coleção do zero, literalmente. Assim, me tornei “colecionador de histórias em quadrinhos”, como previa a estratégia da editora. A partir dali passei a colecionar os títulos do Homem-Morcego, que se tornou meu personagem preferido no gênero.
02) Batman: O Cavaleiro das Trevas| Frank Miller
Consagrada história de Batman que dispensa apresentação. Recordo-me que li uma versão encadernada, lembro que foi uma leitura difícil na época (ainda mais quando se está acostumado apenas às abordagens tradicionais de super-heróis).
Demorei pra lê-la, mas desde então meu olhar sobre as histórias do gênero nunca foi o mesmo. Ah, e me recordo que foi assim que conheci Edgar Alan Poe: a simples referência ali despertou meu interesse no mestre da literatura fantástica. Valeu a pena.
03) Subversivos| André Diniz e mais
Conhecer os trabalhos da Editora Nona Arte foi fundamental para que eu compreendesse que histórias em quadrinhos poderiam retratar muito mais que super-heróis. A série Subversivos foi a principal delas. Retratando um dos momentos mais tenebrosos da história brasileira no século 20, a série contou com 3 publicações impressas e capítulos online.
Eu diria, inclusive, que esta foi uma das HQs que me fez deixar de ler o gênero de super-heróis.
04) Calvin e Haroldo|Bill Watterson
A obra-prima de Bill Watterson marcou minha vida por dois aspectos. Primeiro, quando conheci o fantástico, literalmente fantástico, mundo de Calvin e seu inseparável companheiro Haroldo. Em tirinhas geniais, Watterson retrata toda a magia de infância repleta de muito bom humor e críticas pertinentes, tornando a série muito mais do que algo para crianças, como leigos podem considerar. Adultos e crianças se deliciam tranquilamente com as mirabolantes histórias de Calvin, cada qual com a interpretação que lhe cabe.Segundo, fui marcado pela série quando conheci melhor a história de seus bastidores, e que Bill Waterson demonstrou caráter exemplar quando decidiu parar de publicar as histórias das personagens, não cedendo seus ideais diante de ofertas de comercialização (que muitos considerariam irrecusáveis) de produtos etc. Não que a série precise disso para torná-la melhor, mas para mim a tornou incomparável.
05) Estranhos no Paraíso| Terry Moore
Quando a Abril Jovem lançou a minissérie de 3 edições eu não dei muita bola. Era muito aficcionado por super-heróis, ainda. Mas me conquistou quando a Editora Via Lettera lançou Sonho Com Você Volume 1. Isso fez com que eu corresse em sebos em busca da minissérie anterior pra devorar a inicialmente perfeita série de Terry Moore.
Pena que aqui no Brasil nenhuma editora tenha levado a série adiante. É uma pena.
06) Sandman| Neil Gaiman
Meu primeiro contato com Sandman não foi marcante. Foi uma edição avulsa repleta de personagens (desconhecidos para mim, na época) que li de qualquer jeito. Até que caiu em minhas mãos um bom tanto de números da Editora Globo, e me senti obrigado a ler a série com devida atenção que merecia. E foi surpreendente.
Neil Gaiman construiu um universo fantástico, em todos os aspectos. E repleto das mais diversas referências, tornando o universo potencialmente rico. E soube o momento certo de parar.
07) Fawcett| André Diniz e Flávio Colin
Na época eu já conhecia o trabalho de André Diniz, por causa dos fanzines que editava e acompanhava. Conhecia um pouco de Flavio Colin pelas revistas dos anos 70 a 90 que desenterrei em sebos etc. Mas a publicação, lançada originalmente pela Editora Nona Arte, me fez perceber a grandiosidade das histórias em quadrinhos e a maestria de Flavio Colin com seus traços precisos.
08) Viagem a Tulum| Federico Fellini e Milo Manara
Gosto muito de Fellini. Não me lembro se foram seus filmes que me levaram a essa HQ ou o contrário. E gosto muito do trabalho visual de Manara. Conhecer esta obra (lançada pela Editora Globo) foi um delírio, uma viagem fantástica onde toda a magia típica nas obras de Fellini foram retratadas ali pelos traços sensuais e oníricos de Manara.
09) Animal| editora VHD Diffusion
Foi na revista Animal que conheci grande autores como Massimo Mattioli, Enrique Sanchez Abuli, Fábio Zimbres, Jaime Martín, André Toral… e muitos outros, numa miscelânea de estilos que até então eu nunca tinha visto numa única publicação. A revista contava ainda com um encarte, intitulado Mau, que apresentava assuntos diversos, numa pegada bem underground. É sempre prazeroso revisitar essa coleção.
10) Maus| Art Spiegelman
Dizer que Art Spiegelman revolucionou as histórias em quadrinhos não basta. Na verdade, nada basta a não ser ler e apreciar esta obra. Fim.
SERGIO CHAVES
Editor, roteirista e designer gráfico. Trabalha na área editorial desde o começo dos anos 2000. Em 2007 deu início à revista Café Espacial, com a qual conquistou 6 prêmios nacionais e destaque internacional, entre eles 4 troféusHQ Mix. É ainda um dos responsáveis pelo Charlotte Estúdio. Contato: editor@cafeespacial.com
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