Depois de uma breve passagem num curso de desenho (mais voltado pra pintura, o que me irritou) e uma temporadinha num outro de quadrinhos e caricatura, já era mais que chegada a hora. Tinha 11 anos.
Uma seqüência de folhas A4 dobrada ao meio davam a aparência de uma revista de quadrinhos. Quase como aquelas da Turma da Mônica que havia em casa, só um pouco maior (por que raios os gibis eram menor que um A5?). As maravilhas do xerox frente e verso na mesma folha resolviam o restante da produção. Faltava só o recheio.
E que desafio! Embora fossem fáceis de ler, ora veja, os quadrinhos eram difíceis de fazer! Não era à toa que até então eu apenas desenhava personagens enfileirados nos rascunhos, tal qual model sheets, que nem sabia de que se tratava na época. Tinha lá umas dezenas deles. Alguns poucos se repetiam, mas não foram eles os escolhidos para estrelarem a revista.
Se o que eu conhecia de quadrinho era basicamente a turma do Mauricio de Sousa, era isso que iria fazer: histórias de crianças. Havia lá nas minhas artes um garotinho loiro com uma camiseta com um “R” estampado (minha mãe diria que era por causa do meu nome) e ele foi eleito líder da turma, que contava ainda com outro garoto e duas meninas e um cachorro. O nome Ringo foi escolhido, se não me falha a memória, graças a uma caixa de biscoitos homônimo, com um garoto vestido de cowboy. “E tem um cantor também com esse nome” – tentava minha mãe puxar pela memória, que pouco conhecia sobre os quatro garotos de Liverpool.
Ironicamente, tanto o personagem quanto sua turma acabaram por ser a parte mais fraca da revista. Histórias de um detetive com ajudantes atrapalhados ou de uma dupla de amigos bem diferentes que viviam aventuras ao lado de uma baleia azul (fruto de outros esboços em meio aos meus falsos álbuns de figurinhas) acabaram sendo muito mais prazeirosas e divertidas de se fazer. Ainda assim, Ringo havia sido eleito personagem principal. Ele e sua turma acabaram mesmo mesmo dominando a maior parte das páginas e histórias.
Cinco sulfites dobrados ao meio, o desenho direto nas folhas, à lapiseira. Depois de feitas as cópias, o valor de capa cobria as despesas e daria um “lucrinho” para o próximo número. E assim a revista Ringo foi sucesso entre parentes e alguns amigos, durante sete números ao longo de dois anos, gerando ainda três especiais que destacavam outros personagens.