Tenho encontrado diferentes experiências na produção da série 10 Quadrinhos que Mudaram Minha Vida. É particularmente divertido notar como cada convidado procura elaborar sua lista (uma vez que têm o compromisso de listar nãos as HQs que consideram melhores e sim as que fizeram toda a diferença em algum momento de sua trajetória) e até como cada um encara a definição de quadrinhos para esta ação.
Conheça neste mês a lista da jornalista Mariamma Fonseca, uma das responsáveis pelo blog Lady’s Comics (que prega: HQ não é só para o seu namorado). Como bem se vê já na imagem abaixo, os quadrinhos são uma constante em sua vida…
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Mafalda e Mariamma (acervo pessoal) |
Ela procurou listar seguindo uma ordem cronológica aproximada de quando tomou contato com as publicações. Confiram então os 10 Quadrinhos que Mudaram Minha Vida – por Mariamma Fonseca:
Meu pai lia todas as noites antes de eu dormir, mesmo sendo um presente de um ex-namorado da minha mãe (com dedicatória e tudo!). Com toda paciência do mundo, ele repetia os versos que eu já sabia de cor. Mudou minha vida, pois exercitou minha imaginação de menina.
2) Turma da Mônica
Clichê, eu sei. Mas é impossível não citar o quadrinho que me ensinou a ler e a gostar de desenhar. Quem nunca rabiscou um desenho do Mauricio de Sousa? Tentava desenhar aqueles olhos característicos e orelhas grandes… Foi aí que eu comecei a ler quadrinhos.
Bob Cuspe me deu inspiração para a rebeldia da adolescência. Tinha um estojo com o punk mostrando o dedo do meio. Achava o máximo quando os colegas de escola viam e se assustavam! Hahaha… As tiras do Angeli me mostrou que quadrinhos não era apenas um divertimento, me mostrou que nos quadrinhos também é um meio de crítica.
4) Fushigi Yūgi
Numa tentativa de virar quadrinista, eu fui estudar na Casa dos Quadrinhos aqui em Belo Horizonte e, por sugestão da bibliotecária, comecei a ler a minha primeira e única série de mangás. Passava horas lendo a história de Miaka Yuki. Todo dia ia à biblioteca pegar um exemplar. Acabei com esse gosto pelo mangá assim como a tentativa de desenhar, mas escrevendo aqui até que deu vontade de voltar…. A ler mangás, claro.
5) Mafalda
Apesar de Quino não permitir a reprodução de sua HQ na internet, foi lá que eu li todas as tiras do autor. Foi em 2007, no intervalo dos atendimentos que fazia num call center (era um estágio daqueles empolgantes! #not) que Mafalda me fez rir e pensar. Sua fala sempre crítica e ácida me tirava da monotonia.
6) Palestina – na faixa de Gaza
Foi na faculdade de jornalismo, por indicação de uma professora, que encontrei Palestina. A história de uma região de conflito, contada em quadrinhos por Joe Sacco, virou minha monografia. A reportagem em quadrinhos me mostrou de que no quadrinho tudo é possível. Me permitiu estudar mais sobre esse tipo de fazer quadrinístico e me deu uma segunda chance de gostar de semiótica! Hahaha…
7) Macanudo
Como não se apaixonar por macanudo? Como não ficar pensando indignada: “poxa, é assim que eu me sinto e ele conseguiu passar isso pro papel em uma tirinha!!” Macanudo apareceu pra mim no FIQ. Quando ia ao evento sozinha, pois não conhecia ninguém com esse gosto em comum. Tímida, morria de vergonha de pegar os autógrafos, por parecer invasivo demais. Assim deixei de ter o autógrafo de Liniers. Mas foi Macanudo que me fez gostar da coisa e querer fazer algo relacionado aos quadrinhos. Foi uma das portas de entrada para a criação do Lady’s Comics.
8) A Guerra dos Gibis
Eu sei que não é uma HQ, mas a minha vontade de pesquisar sobre os quadrinhos no Brasil veio desse maravilhoso livro, e não posso deixar de falar dele. Gonçalo Júnior nos dá uma visão de como tudo começou por aqui. Cada detalhe nesse livro me fascinou: as fotos, documentos e as situações narradas. No livro percebemos que fazer quadrinhos no Brasil é coisa de guerreiro e as situações por qual passou os quadrinistas na ditadura deixa claro o porquê de essa arte ser pouco valorizada. Esse livro me fez querer saber mais e mais, e me fez ir todos os dias à Gibiteca Gobbo aqui em Belo Horizonte fazer pesquisas. Nele, descobri que Dom Helder Câmara (o cara que deu origem ao meu nome diferente) gostava de quadrinhos numa época que a igreja os condenava.
9) Persépolis
O primeiro post no blog foi sobre Marjane Satrapi e
Persépolis. Quando pensávamos naquela época em mulheres e quadrinhos lembrávamos logo dela. Ela estava no auge. A revolução islâmica sob um olhar feminino me deixou fascinada. A partir de
Persépolis vi muito mais mulheres fazendo quadrinhos. Foi o que deu força para tocar o blog!
10) El Eternauta
Antes de ir para Argentina, resolvi ler Bienvenido – Um passeio pelos quadrinhos argentinos, do Paulo Ramos (outro autor que admiro!). No final do livro, o texto sobre um viajante do tempo me chamou atenção. Um herói que não seguia os padrões comuns dos super-heróis. Ao se deparar com a ditadura argentina, seu autor H. G. Oesterheld foi torturado e dado como desaparecido e suas filhas torturadas e mortas. Assim, El Eternauta se tornou um herói revolucionário. Comprei uma hq em espanhol e comecei a ler durante a viagem. Foi na época que eu estava por lá que um vulcão no Chile fez cair cinzas sobre o país que alcançou também a Argentina. Ao ver na TV as cenas das cinzas caindo, não teve como não me lembrar da neve de El Eternauta – evento que dá rumo à história.
Mariamma Fonseca é uma jornalista baiana. Ao lado de Samanta Coan e Luciana Cafaggi mantém o blog Lady’s Comics, no qual procuram tratar da presença feminina nos bastidores e nos próprios quadrinhos, um universo muito marcado pela presença masculina. Atualmente arrecada doações de gibis para uma gibiteca que montou no interior da Bahia.Contatos: blog, Twitter e Facebook.
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