Astronauta e Turma da Mônica no século 21: onde nenhuma dentuça jamais esteve!


O recente lançamento do álbum em quadrinhos Astronauta: Magnetar, com desenho e roteiro de Danilo Beyruth, é mais um marco para a trupe do cartunista e empresário Mauricio de SousaA HQ abre uma nova série de graphic novels nas quais personagens da Turma da Mônica ganham nova versão pelas mãos de outros quadrinistas nacionais. O que reafirma uma tendência neste século na promoção de mudanças significativas no universo da turminha mais querida do país, que refletem diretamente no mercado nacional de quadrinhos.


Uma mudança de ares é benéfica a todo e qualquer processo criativo. Há de se entender a preocupação com a marca e os personagens perante o imaginário do público, em especial o infantil, principal foco de Sousa. A preocupação com a qualidade, com a técnica apurada e o profissionalismo que possibilitam a turminha a concorrer com tantos personagens estrangeiros (e ganhar em muitos casos). Mas é fato que muita coisa mudou ao longo dos mais de 50 anos de carreira do autor e seus personagens, umas mudanças mais significativas, outras nem tanto. Só considerando o final do século passado e o início deste, por exemplo, novos personagens foram incorporados à turma, como a desenhista Marina, o cadeirante Luca e o internauta Bloguinho, entre outros.

O lançamento da Turma da Mônica Jovem, em 2008, foi a primeira grande mudança do século. Como comentei em resenha na época, representa não apenas uma versão adolescente dos personagens, como a adoção de uma linguagem diferente (mais próxima ao mangá, os quadrinhos japoneses, que começaram a fazer sucesso mesmo por aqui nos anos 90) e tudo isso numa revista mensal regular. Oferece uma alternativa para manter os leitores que já não gostam mais do estilo infantil tradicional. Mas até aí é difícil analisar, uma vez que é sabido que os personagens encantam desde crianças pequenas até adultos, ainda que com graus diferentes de envolvimento. O importante é que funcionou, a revista dura até hoje e já rendeu especiais, linha de produtos e projeto de animação. E tudo isso respaldado por uma ampla força de comunicação, como a campanha que divulgou a edição 50, que estampou na capa o casamento de Mônica e Cebola (!!!!).


Em 2009, ano de comemoração dos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa, surgiu o projeto que tende a revolucionar a turminha do ponto de vista criativo: capitaneado pelo editor e jornalista especializado em quadrinhos Sidney Gusman, MSP 50 trouxe 50 artistas nacionais apresentando suas versões únicas para os personagens de Sousa, em histórias assinadas. A série teve sequência com MSP + 50 e MSP 50 Novos Artistas. Mais recentemente, o álbum Ouro da Casa também apresentou versões alternativas dos personagens, porém desta vez apenas com artistas já colaboradores do estúdios Mauricio de Sousa.

Além da possibilidade de promover toda uma geração de artistas nacionais, promoveu um encontro criativo que deve render frutos por muitos anos ainda para a galeria de personagens, tanto do ponto de vista de estilo de desenho até de roteiro. Era natural que não parasse por aí, surgindo então o projeto Graphic MSP. Histórias com personagens consagrados numa roupagem diferente, talvez não tão focada nos adultos, mas definitivamente distante da HQ infantil tradicional. Este sim tende a ser um projeto de transição para quem aprendeu a gostar de quadrinhos lendo histórias da turminha, uma “força” para que percebam as possibilidades da nona arte e possam a continuar a ler outros gêneros, mesmo depois de crescidos.

Marina, Mônica e Magali, por Zazo Aguiar (em Ouro da Casa)


A graphic novel do Astronauta é uma aventura com alta dose de ficção científica e momentos de reflexão, deve agradar um público entre adolescente e adulto. A arte de Beyruth é sim mais realista (mais adequada ao público adulto), mas privilegia poucos quadros grandes por página, o que deve ajudar esta transição também no aspecto visual. Embora o personagem fique a maior parte da história sem outro contato humano, prevalece o aspecto aventuresco, bem um pouco de discussão sobre a solidão. De modo que casou bem também um breve texto na contracapa produzido pelo navegador brasileiro Amyr Klink, famoso por suas viagens solitárias pelo mar e os livros que resultam das experiências. 

E tem mais por aí. Mauricio de Sousa e Sidney Gusman já anunciaram as próximas graphic novels (datas de lançamento ainda a confirmar). Chico Bento, por Gustavo Duarte, Piteco, por Shiko e a Turma da Mônica pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi. Agora então é esperar (ansiosamente) pra ver…