Mônica, Cebolinha e toda a turma viram adolescentes em quadrinhos estilo mangá

A turminha da Mônica precisa crescer? Nos quadrinhos ou em qualquer mídia… Esse assunto dá muita discussão, por isso me atenho ao básico. “Precisar” mesmo, não precisava. Mas com mais de 40 anos, adaptações de personagens e até evoluções acabam acontecendo naturalmente.
Parece mais lógico que isso aconteça com personagens com continuidade instituída (caso dos super-heróis da Marvel e DC, embora a passagem do tempo aí seja beeem lenta). Só que não é por isso que não pode ser tentada com a turma criada por Mauricio de Sousa.

Num bom momento dos quadrinhos no Brasil (em termos de quantidade e qualidade de títulos à disposição), ele achou que ra o momento de arriscar: criou uma série regular (não apenas uma aventura isolada) na qual a turma da Mônica cresceu, viraram adolescentes (embora a idade não seja mencionada, chuto que têm uns 13 anos pelas situações vistas até agora).

Será que finalmente teremos histórias que farão a fundamental transição do quadrinho infantil para o adulto no Brasil?


Turma da Mônica Jovem n° 0 (Panini) – Especial de distribuição gratuita em eventos, junto com outras revistas da turma e também no novo site da série (precisa de um cadastro gratuito para acessar).


Uma pequena história introdutória de seis páginas que mostra um pouco de como serão as coisas daí pra diante: a adolescente Mônica escreve em seu diário no notebook sobre as mudanças nela e na turminha. Ela não é mais uma baixinha gorducha que só usa vestidinho vermelho (aliás, virou uma adolescente bonita, mesmo com os dentinhos ainda salientes). Magali não come mais a torto e a direito: ainda come muito, mas se preocupa com a qualidade da alimentação e cuida mais do corpo. Cebolinha agora quer ser chamado apenas “Cebola”, ganhou uma cabeleira (embora mantenha um penteado que remente aos cinco fios originais) e faz aulas de fono para não trocar mais o “r” pelo “l” (só que isso ainda acontece em situações em que fica nelvoso). Cascão, quem diria, toma banho (mas só de vez em quando). No mais, ganhou um visual “mano” e mantém interesse em esportes radicais.


O novo design dos personagens ficou muito bom no geral. Mônica e Magali viraram adolescentes-gracinha e o Cebola (o Cebolinha teen) também parece uma evolução no personagem. Só o Cascão mudou tão pouco que parece ter parado no tempo (embora teoricamente seja o mais descolado). O número zero e o primeiro capítulo desta revista foram histórias introdutórias. E a equipe de Maurício de Sousa fez otimamente bem esta transição, conseguindo manter a essência dos personagens e provocando apenas mudanças que seriam consideradas naturais com o passar do tempo, para qualquer criança. Uma história bem simpática.


Capa colorida e conteúdo em p/b, anunciando que a nova série será nesta linha (a única diferença é que o n°0 saiu em formatinho e a série sai em formato 16 X 21,5 cm). Ainda bem que a leitura segue o sentido ocidental (da esquerda para a direita), é realmente o mais indicado por aqui (como tratei neste artigo).Nota SV: 8 (de 10)




Turma da Mônica Jovem n° 1 (Panini) – Capa coloria e miolo em P/B, 132 págs (120 de HQ), formato 16 X 21,5 cm, R$ 5,90. A revista começa com belas ilustrações (Mingau na pose do gatinho Manekineko, símbolo japonês de boa sorte, e a Mônica adolescente abraçada ao Sansão). Vai pra duas páginas de fichas de Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali, além de um convite de Mauricio de Sousa para a leitura.


O primeiro capítulo da saga “4 Dimensões Mágicas” vai bem, no mesmo estilo da edição zero, mas agora inserindo os pais dos quatro garotos. A coisa começa a ficar estranha quando há uma menção a uma história do Japão antigo e uma rainha mística. Do segundo em diante, começa efetivamente essa trama que envolve de repente a turma com esta superpoderosa e malévola vilã japonesa de mais de 400 anos, além de um repaginado Capitão Feio (agora “Poeira Negra”).


Entendo que vez ou outra a turminha já tenha se envolvido em aventuras dignas de super-heróis. Porém, desta vez estamos falando de uma série contínua nesta linha. Talvez o mais adequado fosse continuar com histórias do cotidiano, adaptadas às novas situações. Só isso já daria muito pano pra. O estilo manga ainda assim cairia com uma luva para marcar a diferença entre as duas fases. Não precisava de monstros e aventuras super heróicas mirabolantes. Ir pra este lado significa praticamente criar personagens novos. Com isso, perdeu-se o trabalho que havia sido feita nas duas primeiras histórias: o leitor foi preparado para encontrar a Turma da Mônica adolescente vivendo suas aventuras, não um grupo de adolescentes super-heróis mirins da noite pro dia (com direito a trechos de um “passado escondido” para os pais). É tecnicamente bem desenhado, mas o mundo dos quadrinhos e entretenimento não precisa de mais um grupo do tipo.


Vale ainda registrar do uso excessivo de expressões com deformações características do mangá para demonstrar espanto, vergonha (a velha gota de suor escorrendo no rosto) e raiva. Tudo bem, o estilo é mangá, mas não significa que toda expressão de vergonha precisa ser estilizada ao máximo, acaba sendo um recurso repetitivo (há seqüências com dois ou três por página!) que perde em impacto.


No mais, foi interessante perceber que a equipe criativa resolveu utilizar o Anjinho, personagem que, a meu ver, tem muito mais a ver com o imaginário infantil. A saída foi transformá-lo efetivamente num ser místico (que lembra bastante o Anjo dos X-Men na pequena participação que tem até o momento). Já o Franjinha pouco apareceu, mas o que se vê até agora parece condizente com a evolução de um garoto interessado em ciências (resta saber o quanto de “cientista amalucado e superdotado” ele ainda tem…).


Se alguém estava em dúvida, a turma da Mônica efetivamente mudou não só o estilo de desenho e narração visual (mangá), como de gênero: de histórias cotidianas se transformou em aventura de super-herói japonês (eu já acho que se surgir um robô gigante, não vai me espantar mais…). A história continua na próxima edição (a continuidade foi inserida efetivamente na revista). Resta saber o que virá depois deste arco que apenas faz versão “turma da Mônica” de qualquer grupo genérico de super-heróis japoneses, esquema super sentai (aquelas produções televisivas de grupo de heróis japoneses como Changeman e Power Rangers).


Nota SV: 5 (de 10)

Confira também a resenha da Turma da Mônica Jovem nº 2.

[Post reeditado 2012]