Resenha: Daytripper – Quadrinhos premiados de Bá e Moon e a importância de pequenas-grandes histórias

Ao terminar e fechar o livro, o leitor (conscientemente, ou não), abrirá um sorriso discreto e desfrutará do sabor de como é bom ler quadrinhos.

Daytripper, com roteiro e desenhos dos quadrinistas gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, é um achado. Chega ao Brasil num encadernado luxuoso, com capa dura e papel couché, pela Panini Books (o “braço” de livros da editora que publica HQs da Marvel, DC e Turma da Mônica no país), depois de ter sido publicada originalmente nos Estados Unidos como uma série em dez capítulos pela linha Vertigo, da DC Comics (a mesma de Sandman, John Constantine, Monstro do Pântano, Fábulas e tantas outras boas séries).

Ter a possibilidade de produzir seu próprio roteiro para uma das grandes produtoras de quadrinhos, numa série de bom fôlego, fez bem aos dois, que em 2010 haviam sido os primeiros brasileiros (junto com Rafael Grampá) a levar o Eisner Awards (por edição independente de 5).  Na HQ, eles potencializam sua vocação por contar pequenos e grandes dramas cotidianos, com pitadas de realismo fantástico, poesia, drama e amor.

O leitor é apresentado a Brás de Oliva Domingos, um sujeito como muitos outros. Mas sua história não é contada de forma comum e linear não. Não seria tão fácil. Cada capítulo é uma narrativa de começo, meio e fim, com um pequeno e significativo trecho de sua vida, que vão aos poucos constituindo na mente de quem lê possíveis versões de quem é Brás. Um escritor de obituários? Um pai amoroso? Uma criança milagrosa? Um amigo desnaturado? Um namorado acomodado? Um senhor de vida plena?

É difícil tratar da história sem “entregar” muito dela, por isso esta sequencia com mais perguntas que respostas. Porém é particularmente bom ler sem saber de alguns elementos-chave que possibilitam a peculiar narrativa e se tornam conhecidos já nos primeiros capítulos. A edição que chega ao Brasil é uma sequencia de bons acertos. O prefácio (em quadrinhos) produzido pelo norte-americano Craig Thompson (autor de Retalhos, que saiu por aqui pela Cia. das Letras). As cores de Dave Stewart. O luxo da capa dura e papel especial. A decisão de ambientar a HQ no Brasil, independente de sua primeira publicação ter sido nos EUA, provocando uma familiaridade, cumplicidade e identificação perceptível no trabalho dos gêmeos. Só ficou estranho o texto ter sido traduzido por outra pessoa (Érico Assis) e não adaptado pelos próprios artistas.

Vale dizer que a publicação original venceu este ano o maior prêmio norte-americano de quadrinhos, o Eisner Awards, como melhor série limitada. Levou ainda o Harvey Awards de melhor publicação ou história em edição única. No Brasil, o trabalho da dupla já lhes rendeu diversos HQ Mix e, ultrapassando a fronteira dos quadrinhos, um Jabuti, por sua adaptação do conto O Alienista, de Machado de Assis. Se em algum momento de sua vida já parou pra pensar sobre ela, sobre o passado, o futuro e a importância e beleza das pequenas coisas do dia, não vai querer deixar escapar esta história fantástica, leitura altamente recomendada, sendo fã ou não de HQs.

Daytripper (Panini Books) – Roteiro e desenhos – Fábio Moon e Gabriel Bá; Cores – Dave Stewart; tradução de Érico Assis; 256 págs. coloridas; capa dura; encadernado com lombada quadrada; Preço: variado, entre R$ 38,10 e R$ 62,00 – Nota SV: 10 (de 10)

Site da HQ – http://www2.uol.com.br/10paezinhos/daytripper/ 
Blog de Fábio Moon e Gabriel Bá – http://www2.uol.com.br/10paezinhos/

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