Já faz um tempo que o quadrinista André Diniz mergulhou de cabeça na produção de desenhos diretamente no meio digital. E mais recentemente ele andou comentando em seu perfil no Facebook sobre a experiência de desenhar utilizando tablets, como alternativa à utilização de mesas gráficas como a Cintiq. Inicialmente ele contou sobre a Samsung Galaxy Tab A, mas depois migrou para o iPad Pro 2 (12 polegadas). Com autorização do artista, compilamos algumas de suas impressões sobre os aparelhos e aplicativos, do ano passado pra cá. E também algumas páginas de seu processo de desenho, todo digital. Com a palavra, André Diniz:
Maio/16
Cintiq pra que? Já tive uma, paguei uma verdadeira fortuna (usava com um Mac fuderoso), e hoje tô muito satisfeito com o meu estúdio digital: um tablet Samsung Galaxy Tab A, que vem com a caneta e permite desenho na tela (e nem é dos tablets mais caros), apoiado em uma prancheta da Mocho. Aos amigos desenhistas que não precisam de computador muito potente, fica a dica (e aos que precisam de muita memória e não abrem mão do Photoshop, ainda há o Surface da Microsoft. Esse é um tablet bem mais caro, mais ainda é mais acessível que Cintiq + Mac).
Setembro/16
Postei há uns meses que estava trabalhando com o tablet Galaxy Tab A, aquele que vem com a caneta, e continuo recomendando. Mas aí o Heinar veio encher a minha cabeça sobre o iPad Pro. Concordei que devia ser melhor, mas que era muito caro. Aí a besta aqui foi experimentar numa loja e… Caramba, perigo à vista. Perigo de empenhar uma nota preta nesse bicho.
A minha sorte foi que eu encontrei um usado à venda, por um preço mais camarada. Tô fazendo todo o meu trabalho há pouco mais de um mês no iPad Pro. Cara, que maravilha.
É, sem dúvida, a melhor experiência que já tive de desenho digital, e olha que já trabalhei com Mac + Cintiq. Mas nem se compara. Claro que, pra quem depende de fato do Photoshop, aí complica mais. Mas o atrito da caneta na tela e a resposta não tem igual.
Se é caro quando visto como um tablet, vê o iPad Pro como um computador mais uma Cintiq e ainda por cima portátil. Aí dói um pouco menos no bolso. Mas quer saber? Pra mim, valeu cada centavo!
Junho/17
Já foi anunciado também que a próxima versão do iOS terá um sistema de arquivos geral, mais próximo de como funciona num computador comum ou no Android, o que também é beeem interessante.
Nessa, pra muitos, o iPad Pro passa a ser uma solução muito mais simples e barata que comprar Mac + Wacom ou Cintiq, com a vantagem da portabilidade.
(Aliás, voltando ao Affinity Photo, a versão pra desktop é excelente, faz tudo ou praticamente tudo o que o Photoshop faz e custa um pagamento único de 40 dólares, bem mais em conta que as mensalidades da Adobe.)
Julho/17
Dia 2:
Comecei ontem a trabalhar com o Procreate, aplicativo pra iPad. Ó, tô gostando bastante desse troço. Numa primeira visita, ele não me pareceu muito interessante, mas só fui descobrir agora, sondando mais a fundo. Alguns comandos e recursos importantes, alguns que me pareciam até estar de fora do aplicativo, podem ser acionados por gestos, e aí a brincadeira fica interessante, pois o trabalho fica mesmo bem mais ágil com isso.
É interessante comparar com o Affinity Photo, sobre o qual comentei aqui faz uns dias. O Affinity, exclusivo pra iOS, é, sem dúvida, o aplicativo com mais recursos já lançado pra tablets, seja iOS ou Android (antes de torcer o nariz, o Android tem excelentes aplicativos gráficos que não tem versão iOS).
Mas o Affinity Photo, recém lançado, ainda padece de ser a versão tablet de um excelente software pra Mac/PC. Nessa, ele não aproveita em nada as possibilidades de um tablet. Pra girar e mover a tela, por exemplo, precisamos selecionar uma ferramenta específica, quando até com os aplicativos Tabajara de quatro anos atrás isso podia ser feito movendo a imagem diretamente com os dedos. Não é possível também trabalhar com o tablet na vertical, só na horizontal.
Enfim, cada artista tem as suas necessidades específicas e funciona com essa ou com aquela ferramenta.
Dia 5:
Ainda nessa de compartilhar métodos de produção, equipamento, aplicativo e tudo isso: o trabalho no tablet tem outra vantagem: você pode trabalhar com ele na horizontal, no mesmo sentido da página de HQ que você está desenhando (claro, a não ser que a sua página seja na horizontal).
Daí, ao contrário da tela tradicional de um computador, as 9, 10 ou 12 polegadas do tablet são muito melhor aproveitadas. No iPad de 12 polegadas na vertical, visualizo a página inteira do mesmo tamanho que em um monitor bem maior, tavez de 27 polegadas. Basta posicioná-lo numa prancheta de desenho.
Já tive Cintiq, prefiro mil vezes desenhar no iPad (e também gostava muito de desenhar no tablet da Samsung, optei pelo iPad mais pelo tamanho maior). Eu sempre tive meio que uma obrigação de adorar a minha Cintiq pela fortuna que eu paguei por ela, mas a verdade é que eu nunca me realizei 100% com ela. Mas isso é de cada um.
Uso o iPad Pro de 12 polegadas. Desenhava no MediBang e hoje uso o Procreate. Os tablets da Samsung com caneta são excelentes também. Pra quem não quer largar Photoshop, tem ainda o Surface da Microsoft (mas esse eu nunca usei).
Ah! E se for comprar um tablet específico pra desenho, não passa o antigo pro seu sobrinho: deixa um pra desenhar e o outro pra ver referências, pra ler o roteiro, pra vizualizar a página anterior enquanto desenha a atual.
Assista também a palestra desenhada com o autor André Diniz (que produzi e mediei pelo Itaú Cultural, na série Quartas ao Cubo)