Que o mercado de HQs no Brasil tem um tamanho restrito você já sabe. Não é à toa que os quadrinhos independentes têm se revelado boa válvula de escape para a produção nacional (tanto quantitativa quanto qualitativamente). E felizmente não faltam bons exemplos, como as séries Nanquim Descartável, do Daniel Esteves, e Pieces, do Mário Cau, ou mesmo as diversas publicações bancadas pelos próprios irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá (prática que tinham antes e mantém mesmo depois de conquistarem seu espaço no mercado dos EUA), entre outros.
Só que nem todo artista tem condições de bancar sua produção. Mesmo com uma ótima ideia, roteiro e arte impecáveis. Por isso trago aqui a sugestão de utilização do crowdfunding para viabilizar seus projetos. Esta palavra estranha, pode ser traduzida com “financiamento colaborativo”. O termo vem se difundindo no Brasil e no mundo pela sua utilização cada vez maior para a produção dos mais diversos projetos, entre eles culturais e, entre estes, de quadrinhos. Trata-se basicamente de realizar uma espécie de “vaquinha” com o objetivo de angariar fundos para determinado projeto. Só que ela é potencializada pelo poder de divulgação e formação de redes sociais da Internet.
Para incentivar o público a colaborar, normalmente são oferecidas contrapartidas que variam desde a inclusão do nome do colaborador numa lista de agradecimentos, até brindes diferenciados (que também podem ser um serviço, como realização de workshop para um grupo seleto). Quem colabora costuma ter boa afinidade, seja com os idealizadores, seja com o projeto propriamente dito. De modo que, mais do que um patrocínio, doação ou venda antecipada, se torna uma “causa” que provoca engajamento. E funciona tanto como microfinanciamento para um projeto de nicho como para outros de porte médio ou grande.
Não faltam plataformas na internet voltadas a facilitar o encontro entre produtores e público-financiador e intermediar o processo. No mundo, a mais conhecida delas é a Kickstarter, fundada em 2009. No Brasil, a primeira e mais conhecida delas é o Catarse, voltada a projetos criativos, lançada no início deste ano. Há outras no país, como Sibite (que tem entre seus “embaixadores” o quadrinista Grampá), Movere e Incentivador.
Faz parte da característica destas plataformas o modelo do “tudo ou nada”: se o valor solicitado pelos produtores não for angariado até a data estabelecida, tudo o que havia sido arrecadado é devolvido ao colaborador. Ter uma meta de valor e tempo a ser cumprida também ajuda a empurrar o espectador à ação, incentiva que deixe de ser apenas um consumidor e que trate de financiar algum projeto com o qual se identifique. Os pagamentos são feitos por ferramentas também de internet, de modo que o sistema é programado para que isso aconteça automaticamente. SE a meta for atingida, a plataforma fica com uma porcentagem do valor (em geral 5%) por intermediar o negócio.
Exemplo recente de projeto bem-sucedido é a viabilização da publicação da HQ Achados e Perdidos, de Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho (e música de Bruno Ito), lançada no FIQ em Belo Horizonte. Eu mesmo colaborei, tendo sido a minha primeira em ações do gênero. Tendo anunciado o projeto no Catarse, arrecadaram até mais do que os R$ 25 mil pleiteados para impressão da HQ, com recompensas pelas contribuições que variavam desde o nome gravado no livro até uma música feita em homenagem a quem o colaborador escolhesse.
Mas obviamente estes sites listados não são obrigatórios para quem quer se utilizar do poder da rede. O primeiro exemplo de utilização de crowdfunding que tive notícia foi a publicação do livro Um Outro Pastoreio. Embora não seja propriamente uma HQ, mistura texto e ilustração e flerta com o mundo dos quadrinhos, tendo feito certo rebuliço neste meio exatamente pela forma como foi viabilizada: sua publicação foi custeada por meio de venda de cotas ao público diretamente pelos seus idealizadores, sem intermediários. Em troca, os apoiadores foram credidos “editores” e receberam exemplares autografados. E olha que é uma publicação luxuosa, com capa dura e 208 páginas.
Ficou interessado no assunto? Procure por aí, você pode ler mais sobre crowdfunding por exemplo nesta reportagem do Estadão e no site Crowdfunding Brasil.
E parta pra ação. Tá esperando o que pra angariar colaboradores para a sua HQ independente?
Comentários
6 respostas para “Como conseguir dinheiro para produzir seu projeto de quadrinhos”
muito bom , isso me ajudo muito ,eu acredito q tenho um talento com os desenhos, e sim , queria seguir o ramo dos desenhos , mas nao sabia como comesar , agora q li esses artigos tenho um insentivo pra começar minha historia
Rodrigo, é muito bom saber que o artigo te ajudou a seguir no seu caminho quadrinístico. Quando quiser divulgar seu trabalho por aqui, estamos às ordens!
eu gosto muito de desenhar obrigada pelas dicas 🙂
Disponha! obrigado pela visita
Eu escrevo alucinadamente e sem falsa modestia apaixonada pelo próprio mundo que criei. Mas to me consumindo de angustia pq percebi que a melhor forma de contar a história seria uma série de quadrinhos adulto. estou nos arredores de BSB… se algum desenhista se interessar fale comigo por email… guenafigueiredo@gmail.com
Beleza, tá postado aqui pra quem se interessar!