O financiamento colaborativo (crowdfunding) pode ser a saída para o mercado nacional de quadrinhos?

Não tenho certeza de quando foi a primeira vez que ouvi falar na onda de financiamento colaborativo,  crowdfunding. Mas a primeira vez relacionada a quadrinhos foi no segundo semestre de 2010, com notícias sobre a graphic novel Um Outro Pastoreio, sobre a qual comentei anteriormente aqui no blog e a plataforma Kickstarter.

As primeiras notícias relatavam a semelhança com a popular “vaquinha”, ou “ação entre amigos”. Também se usava o termo micro-financiamento. Só no início de 2011 comecei a ver a popularização do termo crowdfunding e o lançamento da principal plataforma nacional: Catarse.

Dado o momento do mercado nacional independente de Histórias em Quadrinhos, a associação me pareceu óbvia desde o início. As possibilidades passam pelo modelo de financiamento de carreira (como o projeto de André Kitagawa no MiniMecenas) até o de financiamento de uma publicação, como foi o caso do álbum Achados e Perdidos, que ficará como grande marco do gênero por ter sido a maior arrecadação de valor do Catarse, na época, aliado ao fato de ser um projeto muito bacana e de qualidade (eu mesmo contribuí). Pareceu uma ótima forma de obter dinheiro a fim de viabilizar HQs independentes.

Pois bem. O projeto é de meados de 2011, mas só agora o Catarse vive uma onda relacionada a quadrinhos. No momento em que escrevo este post, 11 projetos relacionados às HQs estão em andamento, como pode ver nesta sessão específica. Tem O Beijo Adolescente, do Rafael Coutinho, uma edição da ótima revista Café Espacial (ambos já bateram a meta e serão realizados), uma coletânea de HQs inéditas do coletivo Petisco  e o livro de tiras do Ryot, pra ficar só nos projetos com os quais contribuí. No exterior, Mike Deodato acaba de viabilizar um projeto no Kickstarter, mesmo antes do prazo.

(Uma curiosidade: desde que conheci a plataforma, a seção de HQs lá estava. Porém, só foi inaugurada mesmo com Achados e Perdidos).

O que penso? O caminho é por aí.

Falando do mercado da cultura, de modo geral, vivemos um momento de grande transformação. Inclusive da forma pela qual os produtores são remunerados. E claro que precisam, pois se não ganharem pra isso, não poderão se dedicar a este trabalho. A questão dos direitos autorais nunca esteve tão na pauta quanto agora, por conta disso.

O crowdfunding se mostra como uma das formas de remuneração possíveis. E dá pra ser bastante criativo, não precisa pedir grana só pra uma publicação. Dê uma olhada em outras ações, de outras modalidades culturais no Catarse para ter uma ideia. As contrapartidas também não precisam ser “físicas”, como uma publicação. Algo que promova um encontro e maior proximidade com o autor também é algo bastante desejado, como a possibilidade de um workshop exclusivíssimo para determinados colaboradores (presencial ou em vídeo, quem sabe…).

Não, este tipo de financiamento não é a tábua da salvação do mercado de quadrinhos nacional. Mas tem tanta gente criativa circulando por este meio, tantas ideias, possibilidades, que um bom modelo de trabalho/pagamentos pode surgir e derivar desta praia, não duvido. Pois, ainda mais, este tipo de situação provoca um engajamento de fãs à causa de seus artistas preferidos e permite que vejam mais claramente o quanto podem ajudá-los diretamente a botar arroz com feijão na mesa. E assim podem dar a grana direta e o retorno de tudo o que é “perguntado” por meio de cada projeto pode ser avaliado (por exemplo, você prefere pagar impressão de papel ou remunerar o artista? Crie um projeto digital e veja o que rola!). E isso não é pouco.

E você, o que pensa sobre iniciativas como estas?